domingo, 20 de junho de 2010

A culpa é de quem não se move.

Recentemente tive conhecimento do mais novo aumento na passagem dos transportes públicos urbanos de Feira de Santana – R$2,15. Cada vez, nos aproximamos mais do preço cobrado na capital baiana – Salvador – que já é um exemplo de exploração e irresponsabilidade para com o cidadão que necessita do serviço de transporte público.

O que mais me intriga, em todos esses aumentos ocorridos – ano após ano – é a mera justificativa, camuflada nas juras de melhores serviços, de que é necessário haver os aumentos estipulados. Nos é conhecido casos de cidades, não muito distantes de nós e que, com realidades e necessidades maiores que as nossas, têm uma maior respeitabilidade quanto ao preço e os direitos oferecidos no transporte urbano.

Para quem está acompanhando meu escrito, deve estar imaginando que eu queira ser mais um a criticar os abusivos aumentos dessas tarifas. Porém, digo-lhes que se enganam os que tomaram esse viés. Meu intento é criticar, justamente, a passividade da população que, insistentemente, não se move contra a limitação de seus direitos e apenas faz as velhas “reinvidicações de bate-papo” – uso esse termo para designar o que já conhecemos quanto à mania do brasileiro de reclamar à pessoa errada. Ao invés de ir à causa do problema, simplesmente reclama nas conversas do dia-a-dia e sem ter muito compromisso em obter uma mudança no quadro.

Não é de conhecimento apenas dos historiadores que, o poder de mudança está nas mãos da população, dos cidadãos, já que são eles quem movimentam toda a economia. Mas, o que falta, então, para que tenhamos o poder de decidir o que nos cabe? Qual a explicação para a conformidade da população feirense – e baiana – ante esses abusos excessivos?

Nós sabemos como ninguém, que o interesse, que nos move, é puramente personalista e tem como base, o que já diz o famoso ditado: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. É querer buscar somente o melhor para si, enquanto, os outros, que se virem atrás do deles. Isso é o primeiro passo para o fim de uma consciência de cidadania. O pensar em si volta, negativamente, para o próprio indivíduo, sendo que, nem ele faz as melhorias e nem se une para que tais mudanças ocorram.

Um exemplo, pitoresco por sinal, em meu meio social, são as Vans que fazem a linha “Terra Dura/Feira VII/Genipapo”. Observei, por tempos, como as pessoas se comportam ante a lotação dos carros – que além de ser um desrespeito para com o cidadão, é um delito e uma ameaça a integridade física da população. Muito se reclama, dentro dos carros, pouco se faz – continuam, mesmo reclamando, a encher os carros consciente ou inconscientemente -, e permanecem os abusos. O que aconteceria se esses usuários deixassem de andar nas vans cheias e passassem a, somente, utilizar carros que estejam com assentos disponíveis? Os próprios funcionários que “tangem” os passageiros e os acomoda em meio ao aperto e ao desrespeito, teriam de moldar-se para que possam obter o mesmo lucro desejado, mas baseados nas reivindicações, silenciosas e ativas. Em suma, a realidade seria de: assentos e vans para todos, com uma “respeitabilidade” forçada, mas, presente.

Agora tomando por base minha hipótese citada acima, o que aconteceria se a mesma atitude fosse tomada em relação aos ônibus urbanos? E se o feirense se negasse a ser explorado e, de maneira pacífica e muito mais eficaz, cortasse o sustento e impedisse que a mercadoria das empresas de ônibus urbano fosse consumida? Acredito que eles, também, teriam de se adaptar, para continuar a incessante luta, diária, em busca do “sustento”, continuar a ter passageiros e, logicamente, a ter lucros.

O que quero realmente afirmar é: o poder está conosco, mas, não queremos usá-lo. Os que visam essas mudanças são taxados de “alienados”, “pseudo-socialistas”, etc., etc., etc. dentro de um mundo de adjetivos e acabam tendo de sofrer pela decisão unânime da sociedade de viver sob o julgo dos que “mandam”. Sempre calados e acanhados ante os cobradores e fortes reivindicadores sem motivação e sem vontade, real, alguma de mudança, dando margem, somente, ao agravamento da situação.

“O Brasil não tem cidadania. A classe média não quer direitos, quer privilégios e também, não os quer para o povo. Isso acaba com todo o ideal de cidadania”
Milton Santos.